Prezados professores, gestores municipais,
monitores, membros dos Comitês Territoriais, colegas das Universidades,
Queridos amigos e amigas,
Escrevo-lhes no caminho de volta de
Portugal para o Brasil e francamente triste por não poder encontrá-los por
motivos alheios a minha vontade e a vontade dos organizadores deste Seminário.
Estou em pós-doutoramento, desde agosto deste ano na PUCRJ e nesta condição, de
licenciamento para estudos, o sistema do
governo federal não permite a compra de passagens.
Gostaria de estar com vocês!
E de algum jeito estou!
Quando, em 2007, iniciamos o caminho que
nos trouxe as possibilidades de reconstruir no Brasil as bases para o debate e
a agenda que retomavam os sonhos de uma escola republicana, igualitária, laica,
de qualidade, universal e de dia inteiro, iniciamos também a construção de
redes humanas e institucionais que sustentariam a longa construção a ser feita.
E me sinto muito conectada nestas redes que envolvem pessoas e atores de
distintos espaços sociais e que mantém vivo um MOVIMENTO que tem dado vida, nos
quatro cantos do país, a ações que vão pavimentando este caminho para a escola
de tempo de e formação humana integral.
As políticas públicas de educação, e de
outras áreas estratégicas, no Brasil são, infelizmente, objeto permanente de
voluntarismos e de conjunturas adversas. Os mesmos personagens e governos que
colaboram para sua construção, patrocinam seu desmonte.
Sempre disse que a agenda da formação
humana integral que constitui a matriz e o sentido de todo trabalho que
construímos – fora disto não encontro significado para mais tempo na escola –
anda de braços dados com a democracia no sentido mesmo que trazia Anísio
Teixeira. Nestes momentos em que nossas instituições democráticas parecem tão abaladas
e seus sujeitos tão fragilizados, esta agenda sofre em suas bases.
Nos dias mais tensos penso no sofrimento e
no desconcerto de pessoas como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Anisio Teixeira,
Florestan Fernandes, Maria Nilde Mascelani, e tantos outros, ao verem seus
melhores esforços e seus projetos de uma nação grande, autônoma e livre,
sucumbirem a interesses sempre pouco claros, sempre pouco explícitos e que
mudaram nossa rota, nos afastando muito da nação que poderíamos ser, se outros
tivessem sido os propósitos, os investimentos e a compreensão do papel do
processo de formação plena do povo, como diz nossa Constituição, para nos
construirmos como um pais que se reinventa e que avança social, cultural,
econômica e politicamente, para ser de TODOS.
As adversidades passarão!
Muitas secretarias municipais e estaduais
de educação, muitas universidades, muitos organismos (como a própria FUNDAJ),
muitas escolas no seu cotidiano estão trabalhando para fazer esta agenda
possível.
Em meu mapa físico e mental, percorro o
Brasil e vejo milhares de experiências que contradizem os resultados da dita
pesquisa do Banco Mundial (pesquisa com metodologia e caminhos pouco claros,
até hoje não traduzida e socializada amplamente, mas
rapidamente absorvida pelos velhos/novos
dirigentes do MEC), resultados estes que desprezam a força da ação que temos
desenvolvido através do Programa Mais Educação e que muda a vida de milhões de
crianças e jovens, colaborando para sua formação como seres humanos e
desenvolvendo sim suas competências escolares na área da língua portuguesa e
da matemática, além das outras áreas que precisam equilibrar-se no currículo em
tempo e qualidade.
Disse sempre que o Mais Educação era uma
estratégia, que não era, em si, a política de educação integral e nos bons tempos do MEC esta estratégia era
valorizada e permanentemente aperfeiçoada.
Pois bem queridos amigos, o caminho a trilhar é longo, mas as bases estão postas.
Recuperamos o que de melhor a pedagogia
brasileira produziu, em pensamento e em práticas, ressaltando a recuperação do
lugar inequívoco que deve ocupar entre nós, o prof. Anísio Teixeira, que deu ao
país sua vida pela brutalidade como o estado responde aqueles que respeitam e
querem o melhor para o povo brasileiro.
No presente, desencadeamos ações que nos
permitem este grande movimento, com financiamento, perspectiva legal através do
Plano Nacional de Educação, da formação que
se faz por uma grande rede de universidades, organização social e institucional
através dos comitês valorizados desde a bonita experiência do Programa Escola
Aberta, hoje incorporada ao Mais Educação na dimensão escola-comunidade.
Projetamos o futuro sim, porque como dizia
Paulo Freire, só existe futuro se o presente for transformado, e é exatamente
isto que estamos fazendo. Transformando as condições materiais e pedagógicas
das escolas, construindo coletivamente possibilidades de outros cenários em que
os estudantes sejam protagonistas de suas ações, em diálogo com seus mestres,
no campo das ciências, da cultura, dos esportes, das tecnologias.
Um projeto de futuro que nos permita ser
gente inteira, não apenas carvão para queimar na produção das mercadorias que mantém o giro econômico da sociedade, como dizia Darcy Ribeiro. Gente para
brilhar, para viver, para desenvolver-se pessoalmente e colaborar no grande
projeto coletivo que nos une!
Portanto SIGAMOS e SIGAMOS EM CONEXÕES como
dizia o grande mestre e amigo Nilton Fischer que guardo na mais afetiva de
minhas memórias.
Andando pelo Brasil e pelo mundo reafirmo,
no que vejo e nos debates dos quais participo, nossa agenda e nossos
compromissos. Elevar todos a categoria
de cidadãos deve ser nosso norte! E a escola pública universal e de dia inteiro
é nosso caminho mais seguro. Quanto mais articulada as outras políticas sociais
e culturais mais resultado teremos. Sigamos lutando e trabalhando por isso!
Não nos deixemos iludir pelo canto de
sereia daqueles que sempre mantiveram o povo brasileiro abaixo da linha de
dignidade humana e que sempre encontraram porta-vozes nos âmbitos
governamentais.
Por fim, lhes envio a Indicação que ajudei
a articular e aprovar no âmbito de minha
atuação como Conselheira do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul,
no recém terminado mês de outubro. Constitui-se de uma reflexão conceitual e
historicizada com “Recomendações para organização da escola de tempo integral e
formação humana integral” no âmbito do sistema estadual de educação do Rio
Grande do Sul e de suas escolas, mas que pode ser inspirador para o conjunto do
país.
Uma última palavra sobre o que chamo de
infâmia e profunda dor de cotovelo. Muitos de vocês são classificados como as
viúvas da profa. Jaqueline Moll. Nada mais estúpido e fora de contexto. Não há viúvas neste processo (embora alguns,
propriamente os que cunharam esta expressão desejem séquitos e servos).
Há inúmeras pessoas enamoradas da
possibilidade de outro porvir no qual nós, adultos, sejamos como faróis a
clarear o caminho de cada jovem e criança que nos confie a sociedade através do
sistema educacional escolar. E o caminho de cada um e da cada uma será único e
dotará nossas crianças e jovens da base necessária para seguir com altivez e
autonomia pela vida!
Me despeço e desejo que sigamos juntos, em
nossas mentes e em nossos corações!
Grande abraço,
Jaqueline Moll
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