PRUDENTE: CONCEPÇÕES, IMPLANTAÇÃO E RESULTADOS. SÔNIA MARIA
PELEGRINI; ONDINA BARBOSA GERBASI, SILVIO SENA - SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE
PRESIDENTE PRUDENTE/SP.
Resumo
A
Pesquisa investiga a implantação, as concepções e os resultados do Programa de
Educação Integral denominado Cidadescola, cujo objetivo é potencializar a
articulação dos serviços e de espaços públicos, comunitários e/ou privados da
cidade, lançando o desafio de agregar profissionais de várias áreas ligadas às
diferentes secretarias municipais. Implantado em dez escolas, o Programa parte
de uma visão intersetorial que concebe a educação como um processo que abrange
as múltiplas dimensões da formação humana, ampliando a jornada diária na rede
pública municipal de ensino. Os alunos participam de oficinas com atividades
variadas e organizadas em dez eixos temáticos. Para a avaliação fez-se
necessário criar instrumentos que nos permitissem ter uma visão global de
atividades tão diferenciadas. Foram realizadas duas avaliações, uma na
perspectiva dos alunos e outra na perspectiva das famílias, dos profissionais e
dos voluntários envolvidos. Os resultados demonstram um grau elevado de
satisfação dos alunos e dos familiares.
Palavras–chave: Programa.
Educação Integral. Cidadania.
Introdução
O Ministério da Educação e Cultura (MEC) aponta que
o sistema público de ensino, no Brasil, avançou no processo da democratização
do acesso e da permanência dos alunos no ensino fundamental. Segundo este órgão,
constata-se, no atual momento histórico, que 97% das crianças usufruem deste
direito. No entanto, as avaliações oficiais nos revelam que o modelo
educacional vigente não oferece condições para que a criança se desenvolva
plenamente e se aproprie, de forma solidária, fraterna, crítica, responsável e
comprometida, com o país e com o seu futuro. Há uma discrepância entre o avanço
do acesso ao ensino regular e o aspecto qualitativo dessa etapa da educação
básica, sendo que a crescente expansão da oferta de vagas na escola pública não
foi acompanhada das condições necessárias para que se possa garantir a
qualidade pretendida para a educação.
O Sistema Educacional Brasileiro (SEB) têm
preconizado políticas públicas indutoras de transformações estruturais para o
ensino. Se encontram em pauta debates, como a relação entre as disciplinas; a
reorganização dos tempos e dos espaços da escola; e, as formas de ensinar, de
aprender e de avaliar, que implicam na disseminação de novas concepções de
currículo, de conhecimento e de desenvolvimento humano. Nessa pretensão, a
concepção de escola deve objetivar a formação do educando nos aspectos pessoal,
interpessoal e social.
Por sua vez, o Plano Nacional de Educação (PNE)
retoma e valoriza a educação integral como possibilidade de formação integral
da pessoa e avança para além do texto da LDB, que ao apresentar a educação
integral como objetivo do ensino fundamental e, também, da educação infantil. Além disso, apresenta
como meta, a ampliação progressiva da jornada escolar para um período de, pelo
menos, sete (7) horas diárias, além de promover a participação das comunidades
na gestão das escolas, incentivando o fortalecimento e a instituição de
conselhos escolares.
Frente a esse desafio, deu-se o reinício, no
Brasil, ao debate sobre a educação integral, modelo este, que, historicamente,
se origina, ainda que não de forma exclusiva, dos ideais de Anísio Teixeira.
No contexto brasileiro, têm sido formuladas
concepções e práticas de educação integral alicerçadas na ampliação da jornada
escolar, desde o inicio do século XX, visando à necessidade de reestruturar a
escola para responder aos desafios de seu tempo histórico. (BRASIL, 2009, p.
13)
Na década de 1990, pronuncia-se com força legal
através da Lei de Diretrizes e Bases Nacional – LDBN/1996, o aumento
progressivo da jornada escolar na direção do regime de tempo integral,
valorizando as iniciativas educacionais extra-escolares e a vinculação entre o
trabalho escolar e a vida em sociedade. É notório que chegamos a um entendimento
consensual de que a Educação Integral das crianças, dos adolescentes e dos
jovens deste país é um compromisso de toda a conjuntura social.
Nessa direção a Portaria Interministerial Nº
17/2007 e o Decreto Nº 7.083/ 2010 do Governo Federal estabelecem o atendimento
às atuais necessidades, de modo a induzir a ampliação da jornada escolar e a
organização curricular na perspectiva da educação integral com o Programa Mais
Educação (PME).
Trata-se da construção de uma ação intersetorial
entre as políticas públicas educacionais e sociais, contribuindo, desse modo,
tanto para a diminuição das desigualdades educacionais, quanto para a
valorização da diversidade cultural brasileira. Fazem parte o Ministério da
Educação, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o Ministério
da Ciência e Tecnologia, o Ministério do Esporte, o Ministério do Meio
Ambiente, o Ministério da Cultura, o Ministério da Defesa, a Controladoria
Geral da União. (BRASIL, 2010b, p. 1-2)
Essa estratégia promove a ampliação de tempos,
espaços, oportunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar
entre os profissionais da educação e os de outras áreas, de que se faz exemplo,
sob a coordenação da escola e dos professores, os familiares das crianças e os
diferentes atores sociais presentes no contexto escolar. Isso porque a educação
integral associada e integrada ao processo de escolarização, pressupõe a aprendizagem conectada à vida e ao universo de interesses e de
possibilidades das crianças, dos adolescentes e dos jovens.
O ideal da Educação Integral traduz a compreensão
do direito de aprender como inerente à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito,
à dignidade e à convivência familiar e comunitária e como condição para o
próprio desenvolvimento de uma sociedade republicana e democrática. Por meio da
Educação Integral, se reconhece as múltiplas dimensões do ser humano e a
peculiaridade do desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens. (BRASIL,
2010b, p. 5)
O PME visa fomentar por meio da sensibilização, do
incentivo e do apoio a projetos ou ações de articulação de políticas sociais e
de implementação de ações socioeducativas oferecidas gratuitamente a crianças,
adolescentes e jovens, que considerem as seguintes orientações: I) contemplar a
ampliação do tempo e do espaço educativo de suas redes e escolas, pautada pela
noção de formação integral e emancipadora; II) promover a articulação, em
âmbito local, entre as diversas políticas públicas que compõem o PME e outras
que atendam às mesmas finalidades; III) Integrar as atividades ao projeto
político-pedagógico das redes de ensino e escolas participantes; IV) promover,
em parceria com os Ministérios e Secretarias Federais participantes, a
capacitação de gestores locais; V) contribuir para a formação e o protagonismo
de crianças, adolescentes e jovens; VI) fomentar a participação de famílias e
comunidades nas atividades desenvolvidas, bem como da sociedade civil, de
organizações não governamentais e da esfera privada; VII) fomentar a geração de
conhecimentos e tecnologias sociais, inclusive por meio de parceria com
universidades, centros de estudos e pesquisas, dentre outros; VIII) desenvolver
metodologias de planejamento das ações, que permitam a focalização da ação do
Poder Público em territórios mais vulneráveis; e, IX) estimular a cooperação
entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
O Programa Mais Educação é operacionalizado pela
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), em
parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB), por meio do Programa
Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), para as escolas dos territórios prioritários. As atividades
fomentadas foram organizadas nos respectivos macrocampos: Acompanhamento
Pedagógico; Educação Ambiental; Esporte e Lazer; Direitos Humanos em Educação;
Cultura e Artes; Cultura Digital; Promoção da Saúde; Comunicação e uso de
Mídias; Investigação no Campo das Ciências da Natureza e Educação Econômica
(BRASIL, 2010, p. 7).
Seguindo essa tendência, o processo de implantação
da educação integral na rede municipal de ensino de Presidente Prudente se deu
por meio do Decreto Nº 21.142/2010 de agosto de 2010, com o nome de Programa de
Educação Integrada Cidadescola. O programa visa fomentar a educação integral
para as crianças da rede municipal de ensino de Presidente Prudente e
estabelece que por meio da sensibilização, incentivo e apoio a ações de
articulação de políticas públicas e implementação de atividades socioeducativas
oferecidas, devem consistir nas seguintes orientações: I) contemplar a
ampliação de tempo e do espaço educativo pela noção de formação integral e
emancipatória; II) integrar as atividades ao Projeto Político Pedagógico (PPP)
das escolas participantes; III) promover, em parceria com as secretarias
municipais, estaduais, governo federal e órgãos afins, a capacitação dos
gestores do programa; IV) fomentar a participação das famílias e comunidades
nas atividades desenvolvidas, bem como da sociedade civil, instituições
educativas de formação de profissionais e de organizações não governamentais.
Tais orientações estão embasadas nos princípios de
equidade, igualdade de condições, acesso e permanência com sucesso na escola,
almejando a promoção de uma educação emancipatória.
A legislação supracitada especifica que o Programa
Cidadescola adota, como objetivo, desenvolver a formação integral das crianças
da rede municipal de ensino de Presidente Prudente, de forma a contribuir para
a realização e enriquecimento de propostas e práticas curriculares, de sorte a
ampliar a oferta de conhecimentos por meio de atividades socioeducativas que
venham auxiliar o processo de ensino e de aprendizagem da clientela atendida.
Tal objetivo deverá ser contemplado por meio da articulação de ações
intersetorias entre todas as secretarias, órgãos do município e comunidade
local.
As unidades selecionadas
inicialmente para fazerem parte do programa, como projeto piloto, foram as
quatro (4) unidades que apresentaram em 2007 o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) abaixo da média nacional e seis (6) por estarem
localizadas em áreas de exclusão social e que seus gestores aceitaram a
proposta. No total são dez (10) unidades escolares atendidas pelo programa e
cerca de duas mil crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.
O eixo central do programa é a valorização do ser
humano e, para viabilização do mesmo, conta-se com a união de ações de todas as
secretarias e órgãos municipais, Ongs, Associações Filantrópicas, Centros Comunitários,
Sest/Senat e igrejas. Com estes parceiros o Cidadescola usufrui de espaços
comunitários e de ações conjuntas em prol da promoção qualitativa do ensino
oferecido.
O programa possibilita às crianças nove horas com
programação diversificada entre as atividades curriculares regulares e oficinas
direcionadas às várias áreas do conhecimento. O que possibilita o aumento da
quantidade e da qualidade do tempo destinado à educação e formação da criança
que permanece na escola ou nos espaços educativos próximos a ela.
Para que o Cidadescola fosse viável, tornou-se
imperativa a necessidade do governo local repensar a condução da política
pública do município, pois a educação integral concebida sob a égide proposta
exige ações intersetoriais entre suas secretarias e a conjuntura da sociedade
civil.
Na
entrevista ao Programa Salto para o Futuro, Carlos Rodrigues Brandão aponta
que:
A idéia é de uma cidade educadora, de fazer com que
todo o bairro, toda pequena cidade, e até mesmo uma grande cidade, se
transforme num múltiplo, polissêmico lugar de experiências e de intertrocas de
saberes, de valores, de experiências de vida, de culturas populares. E fazer
com que a escola (...) se transforme num centro irradiador de cultura em
diálogo constante com a comunidade. (BRANDÃO, 2007).
Ao entender que a educação integral necessita
dialogar com os diversos setores da municipalidade, no sentido de se constituir
uma rede intersetorial em prol da cidadania das crianças em Presidente
Prudente, o Decreto Nº 21.142/2010 também aponta que:
“Integram o Programa Cidadescola, ações de todas as secretarias e órgãos
municipais”. A necessidade da transcendência da dimensão setorial para o da
intersetorialidade se encontra previsto no parágrafo único, deste mesmo artigo,
alertando que o Cidadescola contará ainda com a participação de ações
promovidas pelas várias secretarias estaduais, pelos ministérios e pelos
diferentes órgãos e entidades, de acordo com as parcerias e convênios firmados.
As concepções aqui apontadas partem do pressuposto
que os problemas sociais que afetam o cidadão são complexos, de natureza
multidimensional e que atingem as pessoas integralmente, em todas as suas
dimensões: física, sociocultural, psíquica e afetiva. Pode-se assim afirmar,
que a educação integral deve ser articulada com as políticas públicas, a
comunidade e os educadores. A intersetorialidade (trabalho) em rede entre as
secretarias dos municípios passa a ser uma nova forma de gerir a cidade/bairro
e de construir políticas públicas que possibilitem superar a fragmentação dos
conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais
significativos na qualidade de vida dos cidadãos.
Numa análise possível, mas, ainda geral, pode-se
concluir que as propostas de educação integral podem contribuir para a
reconstrução de caminhos e de ações mais próximas do que podemos chamar de “educação
popular de qualidade”, pois, elas demonstram, ao menos na legislação, a
preocupação com uma formação mais democrática e a partir de princípios universais.
De acordo com Paulo Freire, uma das tarefas da educação democrática e popular
é:
[...] possibilitar nas classes populares o
desenvolvimento de sua linguagem [...] que, emergindo da e voltando-se sobre
sua realidade, perfile as conjecturas, os desenhos, as antecipações do mundo
novo. Está aqui uma das questões centrais da educação popular – a da linguagem
como caminho de invenção da cidadania. (FREIRE.1992, p.41)
Moacir Gadotti, em uma palestra
na cidade de Taboão da Serra, durante o Fórum de Educação Integral do Estado de
São Paulo indica em sua fala que “educação integral não pode ser mais, do mesmo”.
Posto desta forma, conclui-se que as atividades que complementam o turno das
crianças na educação integral devem objetivar a formação integral destas, a
partir: da articulação dos espaços e tempos; das ações metodológicas baseadas
na ludicidade, no significado/sentido do aprender, nas especificidades de cada
escola/bairro, nas representações locais, na gestão compartilhada e, ainda, nos
saberes e nas experiências de vida dos alunos e da comunidade. Nessa direção
aponta Freire (1992, p.59): “[...] não é possível ao (a)
educador (a) desconhecer, subestimar ou negar os „saberes de experiência
feitos‟ com que os educandos chegam à escola”.
Assim, o respeito às
especificidades de cada escola/bairro, de cada cultura, dos espaços públicos e
privados do entorno, das experiências e saberes da comunidade e dos alunos, de
uma educação que transcende os muros da escola, da participação da comunidade e
das famílias, da participação dos estabelecimentos e instituições em torno da
escola, dos motoristas que trafegam pelo bairro, enfim, podem indicar para a
concepção freiriana de educação, que considera.
[...] o respeito, então, ao saber popular implica
necessariamente o respeito ao contexto cultural. A localidade dos educandos é o
ponto de partida para o conhecimento que eles vão criando do mundo. “Seu” mundo
em
última análise é a primeira e inevitável face do
mundo mesmo. (FREIRE. 1992, p.86)
Para compreender o contexto de uma educação
integral na perspectiva freiriana é preciso entender “o movimento contraditório, entre negatividades e
positividades da cultura” Freire (1992, p. 108), e acrescente-se a o movimento
dialético latente entre os espaços e tempos educativos, disciplina e autonomia,
conhecimento e informação, conteúdo e forma, entre outros.
Para
Freire:
[...] parece valioso chamar a atenção de educadores
e educadoras progressistas para o movimento contraditório entre negatividades e positividades da cultura. Não há dúvida, por exemplo, de que nosso passado escravocrata nos marca como um
todo até hoje. (1992, p.108, grifos do autor)
E nesse movimento contraditório o
educador deve compreender qual o seu papel neste contexto, uma vez que é preciso
reinventar o modo de ensinar e de se relacionar com os educandos, pois para
Freire (1992, p. 47, grifo nosso) o educando,
[...] se torna realmente educando na medida em que conhece, ou vai conhecendo os
conteúdos, os objetos cognoscíveis, e não
na medida em que o educador vai
depositando nele a descrição dos objetos, ou dos conteúdos.
Nesta perspectiva é preciso reinventar, também, o
modo como a escola se move e se cria, para possibilitar e promover a cidadania
plena e participativa por meio de ações que contemplem o envolvimento de todos
os atores. A educação integral exige um repensar sobre o real papel social da
escola, que tem por função central viabilizar a transmissão dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade e promover a cidadania através das
assembléias em prol da transparência e da aquisição de uma nova mentalidade em
relação ao caráter público do espaço da cidade/bairro.
Para
Moacir Gadotti e Paulo Roberto Padilha,
[...] numa perspectiva transformadora a escola
educa para ouvir e respeitar as diferenças, a diversidade que compõe a cidade e
que se constitui na sua grande riqueza. (2004, p. 131)
No texto intitulado “Escola Cidadã, cidade
educadora: projeto político-pedagógico e práticas em processo”, os autores
discutem a origem da palavra cidadão e analisam o movimento educacional, que
vem ocorrendo, indicando que este movimento está associado a uma concepção dialética de educação. Apontam ainda, com
convicção, que o Movimento pela Escola Cidadã, no Brasil de hoje poderá ter o
mesmo impacto do Movimento pela Escola Nova do século XX. Para eles:
O Movimento da Escola Nova opunha-se à educação
tradicional assim como , hoje, o Movimento da Escola cidadã opõe-se à educação
neoliberal. A Escola Cidadã é o contraponto da “mercoescola” organizada “dentro
da lógica empresarial voltada às necessidades de mercado”. (2004, p. 127)
Se a opção for pela intencionalidade educativa, a
escola pode repensar e replanejar/reconstruir sua prática educativa para que
esta transformação aconteça. Nesse sentido é preciso que gestores e docentes
estejam conscientemente envolvidos na
e com a transformação. Freire (1992)
indica que a educação é uma prática essencialmente humana e não é possível a
transformação sem o envolvimento e consciência de si próprio (a) como sujeito
histórico que ocupa um determinado espaço num determinado tempo.
O professor deve deixar transparecer aos educandos
que a nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, gera a capacidade de conhecer
o mundo e nele intervir. Só assim
seremos sujeitos históricos e o nosso conhecimento do mundo terá historicidade.
Enfim,
para Freire,
Assumir-se como ser social e histórico como ser
pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de
ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de
reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão
dos outros. É a „outredade‟ do „não eu‟, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu. (1996, p.41, grifo do autor)
Para a implantação do programa que concebe a
integração de tempos, espaços e aprendizagens para a vida das crianças, há
necessidade de que a Secretaria Municipal de Educação (SEDUC) realize reuniões
regulares com todas as secretarias, autarquias municipais e parceiros para a
mobilização de todos os envolvidos em ações diferentes com a objetivação comum
de darem vida ao Programa.
Para a estruturação do programa foram criadas três
comissões, denominadas: comissão intersetorial: presidida pelo chefe do
executivo municipal e têm como membros participantes todos (as) os (as)
secretários (as) das pastas, presidentes de autarquias e órgãos do município; comissão
de planejamento: presidida pela coordenação geral da SEDUC e composta por
técnicos das diferentes secretarias e autarquias, e comissão de
execução, composta pelos gestores das unidades escolares, professores
comunitários, estagiários, professores e oficineiros.
As atividades propostas para o
programa e que podem ser oferecidas à comunidade escolar, foram organizadas por
eixos temáticos: Eixo 1: Acompanhamento Pedagógico: Eixo 2: Cultura e Artes:
Eixo 3: Língua Estrangeira: Eixo 4: Inclusão Digital: Eixo 5. Educação
Econômica e Cidadania: Eixo 6: Educomunicação: Eixo 7: Esporte e lazer: Eixo 8:
Meio Ambiente: Eixo 9: Promoção e Prevenção da Saúde: Eixo 10: Direitos
Humanos: O que se propõe com as atividades dos diferentes eixos é que sejam
criadas oportunidades para promover o reconhecimento do papel histórico da
instituição escolar e a sua importância para a transformação do lugar onde
vivem.
O atendimento dos alunos no
Programa foi viabilizado por meio de reuniões com as famílias, Secretária de
Educação, equipe gestora, professores da unidade escolar e equipe pedagógica
para esclarecimento sobre o funcionamento do Programa e, o critério foi por
adesão das famílias.
As turmas são mistas com alunos
de diferentes anos, no entanto se constitui turmas em que os alunos são apenas
de uma série/ano, organizadas com aproximadamente 30 alunos. Há um estagiário
do curso de Pedagogia, para cada turma, que é responsável pelo acompanhamento
da mesma, para o auxilio nos momentos de deslocamento das atividades externas,
e ainda, para acompanhamento do lanche e momentos de higiene.
A metodologia adotada no programa
esta baseada na organização das atividades por meio de oficinas, compreendidas
como espaços e tempo para a vivência, a reflexão e o aprendizado individual e
coletivo, bem como para a organização de novos saberes e práticas. Essas oficinas
podem ser desenvolvidas através de trabalhos interdisciplinares, projetos
articuladores, grupos de estudos e de teatro, oficinas de psicodrama, passeios
temáticos, campanhas alusivas e outras formas lúdicas de aprendizagem, sempre
de acordo com a observação sobre o envolvimento e a aprendizagem dos alunos. As
ações desenvolvidas devem ser pautadas em práticas educativas participativa,
dialógica e democrática, que supere a cultura autoritária presente, muitas
vezes, nas relações humanas e, em especial, na escola.
Objetivo da pesquisa
Investigar, analisar e registrar
o trabalho de Educação Integral no município de Presidente Prudente
considerando suas concepções, o processo de implantação e os resultados
alcançados.
Essa atividade de pesquisa é desenvolvida segundo
uma abordagem da pesquisa-ação caracterizada como pesquisa
crítico-colaborativa. Na pesquisa-ação, conforme afirma Pimenta (2005), tem-se
por pressuposto que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com
objetivos e metas comuns, interessados em um problema que emerge num dado
contexto no qual atuam desempenhando papéis diversos: pesquisadores
universitários e pesquisadores (professores no caso escolar). Constatado o
problema, o papel do pesquisador universitário consiste em ajudar o grupo a
problematizá-lo, ou seja, situá-lo em um contexto teórico mais amplo e assim
possibilitar a ampliação da consciência dos envolvidos, com vistas a planejar
as formas de transformação das ações dos sujeitos e das práticas institucionais.
A importância da pesquisa na formação de
professores acontece no movimento que compreende os docentes como sujeitos que
podem construir conhecimento sobre o ensinar na perspectiva crítica sobre sua
atividade na dimensão coletiva, contextualizada institucional e historicizada.
Os sujeitos são os profissionais envolvidos no
programa de educação integral do município de Presidente Prudente, desde sua
implantação. As impressões dos professores envolvidos sobre o objeto de
investigação, são obtidas por meio de análise documental, entrevistas, diálogos
e registros das situações de aprendizagem.
Resultados parciais
Para avaliar o andamento do
trabalho, foi necessário criar instrumentos que permitissem uma visão global de
atividades tão diferenciadas. Primeiramente as crianças foram chamadas para
avaliar, de maneira sucinta, as atividades com elas desenvolvidas, através de
um questionário simples, onde deveriam apenas escolher entre “não gosto, gosto
pouco, gosto ou gosto muito”, complementado por justificativas.
Os instrumentos de avaliação da
parte estrutural e pedagógica do Programa, mais detalhados, foram respondidos
pelos gestores, juntamente com os respectivos professores comunitários e os
professores/oficineiros de cada unidade escolar, com o objetivo de verificar
quais oficinas estavam favorecendo a construção de conhecimentos aos alunos em
diferentes espaços e como estes avaliavam o trabalho oferecido.
A avaliação foi realizada no mês
de outubro de 2010, tabulada e apresentada aos envolvidos no Programa. Os dados
revelaram acertos e fragilidades, evidenciando o que os
alunos mais gostavam e o que não estava despertando
tanto interesse. Tais informações permitiram uma reflexão que levou ao
redimensionamento das oficinas, de modo a causar planejamentos mais lúdicos das
atividades e a considerar as características da faixa etária de cada
grupamento.
As oficinas que mais agradaram os
alunos foram as de jogos recreativos e musica. Considerando a avaliação na
perspectiva da criança, foi reorganizado o trabalho com a implantação das
atividades de música, hora do conto, inglês, judô, organizou-se as atividades
da horta escolar utilizando os espaços da horta municipal, e também, se
reestruturou a atividade com grafitagem estabelecendo como meta a mudança
estética dos muros e espaços públicos onde as escolas estão inseridas.
Para os profissionais do programa
foi organizado uma formação em serviço, baseada nos resultados da avaliação, na
qual participaram como apoio membros do Comitê de Mobilização Social e da
Secretaria da Assistência Social, que trabalharam com os profissionais o
resgate da cultura da paz, o respeito e a solidariedade ao próximo, bem como a
difícil tarefa de exercer e “fazer” democracia num espaço ainda com muitas
marcas autoritárias.
No final do primeiro semestre, foram realizadas
avaliações na perspectiva das famílias. O objetivo foi coletar informações que
indicassem o nível de acompanhamento e de satisfação dos atores do processo, de
forma a perceber o desenvolvimento global das crianças. Observou-se a
necessidade de posteriormente realizar avaliação na perspectiva do professor
que trabalha com o aluno no período regular de ensino, para analisar o
desenvolvimento e a aprendizagem destes alunos e perceber se os objetivos do
programa estão se integrando ao propósito central da escola enquanto
instituição social.
Em realação aos familiares das crianças, apesar de
ainda não totalmente tabuladas as avaliações, constata-se a um grau elevado de
satisfação, o que se pode perceber nas respostas à algumas questões formuladas.
Perguntados se “o programa contribuiu para a formação geral do seu filho”, 95%
dos familiares responderam que sim. Na questão se “os alunos comentam, em casa,
frequentemente, sobre as atividades realizadas no programa”, 93% disseram que
comentam positivamente sobre as atividades. Perguntados sobre as
atividades/oficinas mais importantes sob o ponto de vista deles, a resposta
foi: Matemática, Atividades Físicas, Letramento, Jornal, Inglês, Hora do Conto
e Judô.
Solicitados a propor sugestões, os familiares
indicaram: compra de agasalhos; acrescentar natação como oficina; ampliar as
oficinas de judô, dança e capoeira; escovar os
dentes com maior frequência durante o tempo
escolar; iniciar o próximo ano com a inserção do período integral; diminuir as
lições de casa; ampliar o horário de atendimento (entrada às 07:30 e saída às
18:00); e, possibilitar às crianças levar os instrumentos musicais para casa.
Além destes dados, coletou-se
depoimentos de pais, alunos, professores, diretores, parceiros e comerciantes
dos bairros que apontam, além da satisfação com o programa, a importância do
trabalho educativo realizado no bairro. Os dados e os depoimentos apontam que o
anseio por uma educação de qualidade está se refletindo nestes bairros, no
entanto, ainda tem-se um longo caminho a percorrer, uma vez que há rupturas a
serem feitas e muitos obstáculos a serem superados, para que se possa fazer uma
educação mais democrática e mais justa.
A prática deste programa tem demonstrado que as
articulações entre a comunidade no entorno da escola e o trabalho da escola,
sejam as atividades internas ou externas, têm resultados práticos para toda a
comunidade, haja visto os depoimentos citados.
É certo que muito ainda há por construir e avançar.
Esta perspectiva de educação deveria atender a todos e a todas e a formação dos
profissionais de educação deve ser pensada de forma a valorizar e lhes
oportunizar, também, uma educação continuada com vistas a essa modalidade de
educação.
Sabe-se que um programa desta dimensão exige o
envolvimento, a consciência crítica e o comprometimento ético e político de
todos os envolvidos na educação, bem como, das instituições responsáveis pela
formação dos profissionais da educação, para que de fato venham a produzir as
ações de transformação que a educação tanto necessita. No entanto, tal
envolvimento significa a negação de concepções e de práticas historicamente
construídas e cristalizadas que ainda obstaculizam o avanço qualitativo da
educação pretendida.
Referências
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Salto para o Futuro - documentário Cultura Popular e Educação. Entrevista
(2007).
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Texto referência para o debate nacional. Jaqueline Moll. Brasilia: MEC, Secad,
2009.
______. Programa
Mais Educação. Passo a passo. Plano de Desenvolvimento da Educação.
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e diversidade. MEC: Brasília,
2010b.
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Texto Referência para o Debate Nacional; Gestão Intersetorial no Território;
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<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cad_maise_ducação_2.pdf.Acesso em:
02/03/2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.
______. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
pedagogia do oprimido. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
GADOTTI, Moacir, PADILHA, Paulo Roberto, CABEZUDO, Alicia (org.). Cidade educadora: princípios e experiências. São Paulo: Cortez: Instituto
Paulo Freire, 2004
PIMENTA, Selma Garrido (USP). Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiência com a
formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n.3, p. 521-539, set./dez. 2005.
PRESIDENTE PRUDENTE. Decreto Nº
21.142 - Institui o Programa de
Educação Integral Cidadescola. Secretaria
Municipal de Educação: SEDUC, 2010. (www.presidenteprudente.sp.gov.br)
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